quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Do presídio para Paris

Foto Divulgação/Doisélles

Mais do que uma grife de tricô e crochê cheia de bossa, a mineira Doisélles, das designers Raquell Guimarães e Danielle Joory, desenvolve um trabalho social impressionante. Quem tricota as peças que encantam consumidoras no Brasil e em várias cidades do mundo, como Paris, por exemplo, são detentos da penitenciária mineira Professor Ariosvaldo de Campos Pires. Isso mesmo. Hoje mais de 40 homens do regime fechado manejam agulhas, linhas e tintas com habilidade singular, revelando um exímio talento manual. A gente conheceu o trabalho da Doisélles em Belo Horizonte e ficou encantada com as peças e também com a proposta de inclusão social da marca.

Foto Divulgação/Doisélles

“Já nos primeiros dias de treinamento, descobrimos que eles estariam dispostos a aprender qualquer coisa. Acho que se a Nasa chegasse lá para ensiná-los a produzir um softwear sofisticadíssimo, eles teriam aprendido”, comenta Raquell, uma das idealizadoras do projeto, chamado Flor de Lótus.

Fotos Divulgação/Doisélles

Tudo começou quando a Doisélles, há três anos no mercado, passou a receber um volume cada vez maior de pedidos. O problema era encontrar mão de obra especializada para atender à demanda. “Minhas poucas tricoteiras nem sempre tinham tempo disponível. Tinham problemas domésticos, familiares, enfim, funções compreensíveis no cotidiano de qualquer mulher, mas que, infelizmente, não seriam compreendidas pelo meu cliente, pelo meu prazo”, comenta a designer. Em busca de soluções, a estilista teve a ideia: um presídio. E procurou os trâmites legais para realizar o projeto.

Foto Divulgação/Doisélles

Depois de 40 dias de treinamento, os mais hábeis foram selecionados e passaram a trabalhar diariamente, inclusive aprimorando o processo de produção. “Eles têm ideias bárbaras e soluções muito criativas”, observa Raquell, lembrando de quando criaram um varal rapidamente, com fios e tampas de canetas bics derretidas usadas como pregos, para estender as peças recém-tingidas.

E mais do que isso, os presos passaram a criar, viraram estilistas. Sim. As sobras de material foram sendo tricotadas por eles em modelos que os próprios desenhavam. Um dia, um mais corajoso, mostrou para dona Raquell o resultado. Ela ficou encantada. E o colete criado por Carreto, o preso, ganhou nome próprio e vendeu mais de 400 peças em Paris. E muitos outros passaram a fazer parte da coleção Doisélles.

Foto Divulgação/Doisélles

Além de aprender um ofício, reforçar a auto-estima, exercitar a criatividade, o detento ganha um dia a menos na pena a cada dia trabalhado, ¾ de um salário mínimo por mês, que é depositado em conta e reajustado pelo índice da poupança, e um extra por peças produzidas. Dois deles, já libertos, estão trabalhando no ateliê da grife. Exemplar, não?!


Matéria escrita por Patrícia Pontalti, originalmente publicada no www.aspatricias.com.br

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